quarta-feira, 1 de abril de 2009

Lavagem de Nossa Senhora da Conceição



Turbantes, colares de contas coloridas, saias rodadas e água de cheiro: assim eram realizadas as lavagens de Nossa Srª. Da Conceição em Castro Alves. Em 1954, Cecília Pereira Nunes: cozinheira, doceira e vendedora de cocada e amendoim, realizou a primeira lavagem em Castro Alves, em homenagem ao Senhor do Bomfim. O culto ao Senhor do Bomfim teve origem em 1669 em Setúbal, Portugal. Ainda este ano o culto chegou ao Brasil, junto com uma cruz de Jesus Crucificado. Uma imagem igual a que existe em Portugal chegou à Bahia em 1745 e, neste mesmo ano, foi construída a atual igreja (Basílica) de Nosso senhor do Bomfim, em Salvador. Nos cultos Afro-Católicos, o Senhor do Bomfim é sincretizado como Oxalá. As lavagens do Senhor do Bomfim aqui em Castro Alves eram realizadas no dia 03 de fevereiro, sempre depois das de Salvador, que são realizadas em Janeiro. Em dezembro de 1954, D.Cecília, resolveu homenagear a padroeira da cidade: Nossa Senhora da Conceição, e reunindo filhos e alguns amigos influentes da sociedade, saíram pedindo o apoio dos comerciantes para que a lavagem de Nossa Senhora da Conceição se tornasse tradição.
A festa da lavagem é atribuída á promessa de um devoto. Acredita-se também este ritual teve origem nos tempos em que os escravos eram obrigados a levar água para lavar as escadarias da basílica para a festa dos brancos. Segundo informações das filhas de D.Cecília, os comerciantes sentiam prazer em colaborar e todos se mobilizavam na organização da lavagem. As roupas usadas pelas porta-estandartes eram doadas pelos donos das lojas de tecidos.
Grande emoção acometia a todos, no momento da saída da lavagem, era quando D.Cecília, muito bem vestida com sua roupa bastante colorida de baiana saia à porta de sua residência com a bandeira de Nossa Srª. da Conceição, os foguetes começavam a estourar e o hino do Senhor do Bomfim era executado. Daí por diante era tudo por conta da alegria e dali seguiam em direção à Igreja Matriz, onde se realizava o ritual mais esperado que era lavar as escadarias da Igreja de Nossa Srª. da Conceição.
Depois disso, quase todas as ruas de nossa cidade eram visitadas pelas baianas e pelos fiéis que disputavam a água de cheiro.
Nesse percurso uma rua não podia faltar em hipótese alguma, era a rua do “Tanque Novo” (Rua da Cajá) onde existia um tanque onde as baianas reabasteciam suas moringas com águas, flores e perfumes, inclusive até uma música foi criada para essa rua. Em 1968, Dona Cecília faleceu, mas com muito amor pelo que sua mãe realizava D.Elenita (Tia Lé), após 2 anos de sua morte, continuou com a tradicional lavagem de Nossa Srª. da Conceição até o ano de 1990. Hoje restam apenas lembranças daquele tempo que foi um dos melhores na opinião de D. Elza e de D. Nenzinha – porta – Estandartes da lavagem por vários anos.
Muitas pessoas tentaram revitalizar a lavagem, sem sucesso, essa é mais uma tradição perdida da nossa terra.

Vanderlei Nunes Rodrigues (Zaga)